quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Sozinha por aí...


Os meus treinos são geralmente feitos por volta das 7.30 da manhã ou, muito raramente, por volta das 19h. Mas agora, com a chegada do Outono, a coisa complica-se à tarde.
É que isto de ser mulher não é fácil, como se poderá imaginar. Treinar sozinha por esses caminhos e estradas fora, é sempre um misto de aventura e loucura, na maior parte das vezes. E à noite é para esquecer.

Mas se a noite, as ruas escuras, os caminhos suspeitos de má fama, os cães mal-humorados, os senhores de comportamentos e olhares inadequados já constituem uma ameaça por si só aos meus treinos, então e os olhares reprovadores e o sentimento de que estou sozinha no mundo da corrida?

Não costumo ter problemas com as buzinadelas e os sorrisos e comentários em grupo dos trabalhadores da construção civil. Mas o que me incomoda, por vezes, é o olhar que denuncia espanto! Espanto de me verem na rua sozinha, a transpirar e de semblante cansado.
Há um sentimento em mim de alienação! Serei eu uma ave rara?

Em vinte treinos, poderei encontrar uma senhora a correr, provavelmente de nacionalidade estrangeira. De resto, é aqui esta menina que anda por aí quase todos os dias sem se cruzar com viv'alma em situação igual. Costumo cruzar-me com um ou outro corredor masculino, mas acredito muitas vezes que até eles se espantam. É que sabem? As mulheres que correm nesta terra estão em vias de extinção, ou então...nunca existiram. Provavelmente, sou mesmo a tal ave. Mas sabem que mais? Até me orgulho disso.

No outro dia, uma amiga dizia que gostaria de começar a correr comigo, mas que provavelmente não aguentaria o meu ritmo (sim, pois...). Eu, então, perguntei-lhe porque não ia ela correr sozinha durante os primeiros dias. Ela olhou para mim, como se já se estivesse a imaginar na situação, e respondeu, com um sorriso nos lábios: "Eu, sozinha, na rua a correr? A fazer figuras?" Bem, não me ofendeu, mas fez-me pensar...

Na zona onde vivo, todos os dias disfruto das longas avenidas à beira-mar.
Felizmente, não estou totalmente sozinha, se quiser marchar. Sim, marchar, caminhar, abanar a anca... Na avenida junto ao mar, são senhoras às dezenas, logo a partir das 7 da matina. São senhoras que, por volta dos seus 50-60 anos de idade, descobriram os prazeres da actividade física, há apenas alguns anos (Sim, porque há meia dúzia de anos, as ruas estavam desertas...). Eu louvo estas senhoras. Mas... e as outras? Estarão à espera da reforma?

Tudo isto para dizer que, apesar de muitas vezes, me sentir como uma espécie rara, quando por aí vou sozinha, sinto-me feliz, satisfeita por ser mais uma e não apenas uma.
Sei que por este país fora, existem outras na mesma situação. É vê-las, nas corridas populares, a terminarem distâncias longas de sorriso estampado na cara e a dizer pensando:"O meu dever-prazer foi cumprido!"

Bons treinos para todos, por aí sozinhos a curtir à brava!

4 comentários:

  1. Muitos/as andam por aí sozinhos/as e não desistem. O prazer da corrida, a sensação de liberdade e a certeza de melhor saúde são razões suficientes para continuar. Quantas vezes me mandaram semear batatas, coisa que felizmente sei fazer e que suponho quem me mandava fazê-lo talvez não saiba! Em frente...preserverança e querer! O convívio das provas ajuda a suplantar tudo!Um dia encontramo-nos algures por aí numa qualquer prova. Força "miúda!
    Amílcar Romão

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  2. Muito obrigada pelo seu comentário.
    Caminho há só um: aquele para a frente, e eu escolho sempre esse!

    Lénia

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  3. Lénia parabéns pelo o seu Blog

    Lénia então correr sozinha por aí
    numa zona tão bonita, como é possivel correr sozinha,com a
    marginal da Quarteira, que eu
    conheço muito bem,ainda esta semana
    treinei entre Vilamoura e Quarteira
    a marginal da Quarteira para mim é
    das mais bonitas,e sempre com muito
    movimento, força Lénia
    Antonio

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  4. Obrigada, António.

    Boas corridas para si!

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